Certa vez, tive o privilégio de assistir a uma apresentação realizada por uma orquestra sinfônica. Isso ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, há alguns atrás. Ainda ecoa nos meus ouvidos a melodia e a harmonia com que, aqueles músicos tocavam seus instrumentos.
Mas, de tudo que testemunhei naquele final de tarde ensolarado – no Aterro do Flamengo – e o que mais me deixou hipnotizado, foi, sem dúvida, a maestria com que o regente da orquestra conduzia todos aqueles músicos, espalhados estrategicamente à sua frente. Os movimentos suaves e graciosos das suas mãos, onde em uma delas ostentava uma batuta que mais parecia uma vareta encantada, era sedutor e ao mesmo tempo imprescindível para o desenvolvimento da sinfonia.
Contudo, não pude deixar de notar que o maestro, permanecia o tempo todo virado de costas para o público, mergulhado em absoluta concentração não só nos músicos, mas principalmente nos seus gestos e movimentos exaustivamente ensaiados. Destes pequenos e importantes detalhes, é que era possível jorrar aquela espetacular melodia que arrancava suspiros e comovia a todos os presentes.
É realmente assustador, para não dizer trágico a quantidade de gestores públicos, espalhados por todos os cantos, que tentam reger (usando a batuta do seu mandato) suas orquestras (seu staff administrativo),simplesmente virados de costas para seus próprios músicos, contrariando assim, a boa regência filarmônica. A maioria das suas decisões é populista e incoerente e, muitas vezes, não condiz com a necessidade que às circunstâncias apresentam.
Uma coisa é governar de forma popular (de costas para orquestra), outra, completamente diferente, é administrar de modo populista(de frente para a plateia). Quando se governa de frente para a “orquestra” o gestor conduz de um jeito coletivo e principalmente individual os seus músicos – funcionários – procurando corrigir os erros e desacertos que eventualmente venham a ocorrer. Olhando para seus “subordinados”, o maestro estabelece o elo de ligação entre líder e liderado, fazendo as coisas fluírem normalmente, gerando assim, a excelência administrativa. Excelência esta, que se reproduz no benefício da população.
Suas escolhas são cirurgicamente precisas e cada funcionário é colocado na posição certa, onde ele mais produz. Na orquestra dele, violonista toca violino e pianista toca piano. Não há músicos desafinados, nem tão pouco, instrumentistas que não sabem distinguir um clarinete de um trompete. Sob sua regência, os músicos sabem exatamente os seus papéis e qual o momento exato de tocar seus instrumentos.
Quanto àqueles que regem suas orquestras de frente para a plateia, os tais acabam não percebendo os erros e posicionamentos incorretos de seus próprios “músicos”. Viram-se de frente para o público - em plena execução musical - na esperança de ouvirem os aplausos e manifestações oriundas do auditório, mas esquecem que os momentos das suas glórias são exatamente após a conclusão do espetáculo. Onde todos, de pé, os reverenciam.
Vivemos uma crise de liderança na administração pública. Pode-se contar nos dedos os bons gestores espalhados pelo país. É verdade que o modelo de administração pública adotado pelo Brasil é ultrapassado e obsoleto e, somando isto ao despreparo dos homens públicos é alarmante o futuro da governabilidade política da nação. Entretanto, isso não impede que o candidato a um cargo público, possa se especializar e, entender que uma orquestra se gerencia de costas para a plateia.
Pare e pense...