Aqui em casa, mais especificamente no meu quarto, tenho um abajur que, para acendê-lo preciso puxar uma corda. Quando quero clarear o ambiente, basta puxar a corda e pronto, tenho tudo a minha volta iluminado. E, estando iluminado, posso me deslocar com segurança, sem o correr o risco de esbarrar em algum obstáculo e me ferir, sofrendo consequências mais graves.
A empresa Toyota é disparada a empresa automobilística mais poderosa do planeta. Atualmente é a quinta empresa mais admirada dos Estados Unidos, segundo a revista Fortune. Ostenta o terceiro lugar entre as organizações mais inovadoras e criativas do mundo, o segundo em responsabilidade social e em gestão de pessoas e o primeiro em gestão e investimento de longo prazo.
Mas afinal, o que faz a Toyota despontar como empresa líder no seu segmento? Qual é o segredo dessa hegemonia? O segredo atende pela sigla TPS Toyota Production System ou Sistema Toyota de produção. A empresa nada mais fez que valorizar os funcionários não apenas pelo que fazem, mas principalmente pelo que sabem. Quando os operários da Toyota detectam problemas na linha de montagem, tem a “obrigação” de interromper o processo para consertá-los. Em todos os setores da empresa há uma corda que fica ao alcance de cada funcionário. A corda é ligada no sistema de controle visual, conectado à linha de produção que mostra o estado de cada operação e serve para alertar sobre falhas nos processos de produção. Quando se detecta alguma irregularidade, o funcionário puxa a corda e a linha toda para instantaneamente. O problema é atacado rapidamente para, então, a produção continuar.
A grande bobagem herdada da era industrial foi o mercado separar o profissional em dois tipos: aquele que faz e aquele que pensa. Embora esse paradigma esteja perdendo força, ainda é comum ver isso acontecer na maioria das corporações, seja ela privada e principalmente pública.
Você investe uma barbaridade na sua carreira, estuda e fala vários idiomas. Possui diversas pós graduações e MBA e, ainda por cima, carrega na sua bagagem profissional experiência de sobra para produzir dentro da organização onde você trabalha. Mas a realidade é rigorosamente outra e, você sequer tem reconhecimento por todos os serviços prestados à sua empresa.
A organização retrógrada - constituída nos dias atuais por várias empresas privadas e públicas - quer pagar pelo que você faz, e não pelo que você sabe. Quando você tem uma ideia espetacular e corre para dizer ao seu chefe, ele diz: “aqui você não é pago para pensar e sim para fazer”. Em outras palavras, sua mão de obra é mais importante que seu cérebro e obra. (aproveita e leia a postagem neste mesmo blog intitulada: “O lote de terra mais valioso do mundo mede menos de 30 centímetros”).
Isso acontece por vários motivos, mas o principal deles é o modelo ortodoxo, ultrapassado e conservador de gerir uma organização. Corporações desse tipo adoram organograma, valorizam a hierarquia e reverenciam imensamente os cargos. As decisões e mudanças sempre partem da cúpula e as soluções implementadas são sempre advindas de um pequeno e “expert” grupo, que, por causa da posição que exercem, se tornam os sábios e os oráculos que solucionarão os eventuais problemas da engrenagem administrativa.
Organizações espalhadas por todo o mundo, tem buscado implementar o TPS da Toyota, na tentativa de aperfeiçoar todo o processo de produção e extrair ao máximo, todo o potencial de seus funcionários, que sabem, como ninguém, o que de fato causam problemas na linha de produção e, sobretudo nas áreas onde atuam.
O desafio para a administração pública e privada deste novo milênio consiste em implementar um modelo de gestão participativa onde haja a contribuição tanto daqueles que ocupam o ponta da pirâmide, bem como daqueles que compõe à base. E para começar, nada melhor que instalar “cordas” para serem puxadas toda vez que o pessoal da linha de produção detectar erros ou ter alguma iluminada idéia, afinal, se não puxar a corda, a lâmpada (ideia) não acende.