Você sabe por que o domador de leão usa uma cadeira e um chicote para domar o mais opulento dos animais? Não me diga que é para espantar uma fera daquelas, porque do mesmo jeito que você não se assusta com um gatinho indefeso numa noite fria, assim também o leão não se acovarda com uma cadeira.
Segundo os especialistas, ao ser confrontado com o banquinho, o animal tenta focar as quatro pernas do objeto ao mesmo tempo e, sem ter sucesso, é acometido por uma paralisia hipnótica, que causa na fera um comportamento dócil e frágil, deixando ele submisso aos caprichos do adestrador. Isso mesmo, quando ele tenta olhar as quatro pernas do banquinho ao mesmo tempo, simplesmente entra em transe. Quanto ao chicote, serve exatamente para despertá-lo, através dos fortes estalos.
No mundo atual em que você e eu vivemos, tentar focar todas as coisas – ao mesmo tempo – irá nos deixar inertes frente às exigências estabelecidas por este novo mundo de especialidades e especificidade. O que fazer então para lidar com esse paradigma? Minha sugestão é aderir ao princípio desenvolvido pelo economista italiano Vilfredo Pareto que viveu no século XVIII.
O Princípio de Pareto, conhecido como o princípio 20/80 é amparado na teoria de que você pode obter 80% de produtividade, investindo somente 20% do seu esforço. Ou seja, se você gastar seu tempo, seu dinheiro e seu pessoal com 20% das prioridades mais importantes, o resultado será quadriplicado em aproximadamente 80% do resultado final. Por outro lado, se você desprender energia e dedicação em 80% de tudo que você possui ou lidera, fatalmente sua produção será insignificante.
Dentre os muitos resultados relativos à pesquisa realizada por Pareto, um deles dizia respeito à renda de 80% de toda a Inglaterra – onde ele passou boa parte do seu tempo desenvolvendo suas pesquisas –, que segundo ele, ia somente para 20% da população. Daí então surgiu à premissa que 80% do total de vendas de uma empresa está relacionada a 20% dos seus produtos. 80% do tempo usamos apenas 20% das nossas roupas. 80% das pessoas preferem 20% dos sabores ou cores disponíveis. 80% dos acidentes de trânsito são causados por 20% dos motoristas. 80% dos usuários de computador usam apenas 20% dos recursos disponíveis e assim por diante.
A essência deste princípio é exatamente dar prioridade naquilo que somos fortes, onde reside nosso talento e vocação e, conceder o mínimo de energia naquilo que jamais se desenvolverá em nossa vida profissional e empresarial. No fundo, esse princípio confronta de forma revolucionária nossa forma de lidar com as coisas. Aprendemos desde criança, inclusive na escola, que devemos ser bom em tudo e equilibrar a balança da inteligência dentro da nossa capacidade, exemplo disso são as metodologias estabelecidas nas salas de aula. Se um aluno é craque em matemática e não vai bem na disciplina de história, os pais imediatamente colocam o menino numa aula de reforço exatamente onde ele é fraco, neste caso, em história. Quando na verdade deveriam contratar um professor particular exatamente de matemática, para deixar o menino um gênio. Quanto à disciplina que não vai bem, basta só um empurrão de leve para passar numa boa.
A realidade é que devemos fortalecer nossos pontos fortes e administrar nossas fraquezas, porque fazendo isso, estaremos desenvolvendo o perfil profissional exigido nos dias atuais. Ser bom em tudo, hoje em dia, é ser bom em nada. É como tentar olhar os quatro pés do banquinho do domador e ficar paralisado nessa sociedade multifocal. O sujeito “sabe tudo” foi substituído pelos buscadores de sites na internet, ou vai me dizer que você quando quer tirar uma dúvida não corre imediatamente para o computador, acessa o Google e supre toda a sua curiosidade?
Cabem aos pais, professores, líderes e pessoas comuns com eu e você, identificar aqueles 20% onde somos talentosos, onde somos craques e, investir pesado para sermos impecáveis e realizar sempre um trabalho de excelência com um aproveitamento de 80% nas realizações. Caso contrário, seremos uma atração de circo, preso numa jaula e sendo domado por outra pessoa... Com um banquinho ainda por cima.